Glutamina
1. Metabolismo da glutamina
A glutamina é um aminoácido que
pertence à família dos aminoácidos condicionalmente essenciais. No esportista que
treina regularmente, a glutamina deve ser considerada um aminoácido essencial,
pois a capacidade do corpo desintetizá-la é muito inferior à destruição
provocada pelo esforço. Nossos músculos são responsáveis por aproximadamente 70%
de nossa síntese total de glutamina. Eles utilizam BCAAs como precursores da
glutamina.
A glutamina é o aminoácido mais abundante
no corpo. Ela representa aproximadamente dois terços dos aminoácidos livres em
nossos músculos. Contudo, Kuhn (1999) considera esse valor mais baixo. De
qualquer modo, podemos esperar que a glutamina tenha um papel importante.
Existe uma estreita correlação entre o nível de glutamina livre nos músculos e
a capacidade de síntese de proteínas.
Quanto mais alta for a taxa de
glutamina nos músculos, mais potente é o anabolismo. Estudos em humanos
mostraram que uma baixa artificial do nível de glutamina muscular diminui em
11% a velocidade de síntese de proteínas. O estudo mais célebre que contribuiu
para popularizar o uso de glutamina pelos esportistas foi o realizado por
Haussinger(1993). Ele demonstrou que o anabolismo é regulado, pelo menos em
parte, pelo estado de hidratação da célula. Quanto mais ela estiver hidratada,
mais o anabolismo é
favorecido. Ele mostrou que a
glutamina é um regulador importante da hidratação da célula.
2. Mecanismos de ação da glutamina
Como vimos, ao menos in vitro, a
glutamina estimula diretamente o anabolismo protéico. Ela também possui efeitos
menos diretos. A ingestão oral de 2 g de glutamina por homens e mulheres
sedentários multiplica por quatro a secreção de hormônio do crescimento após
noventa minutos (Welbourne, 1995). Essa mesma ingestão de 2 g de glutamina favorece
a excreção renal de ácido e aumenta o nível de bicarbonato. Essa propriedade da
glutamina poderia, teoricamente, ajudar a acelerar a recuperação durante um
treinamento sequencial, ou aumentar o limite da fadiga durante um esforço
prolongado. Por outro lado, a glutamina parece também reduzir a mobilização de
gorduras e limitar a disponibilidade energética durante um esforço ou um
regime.
3. Exercícios físicos e nível de glutamina
Durante um treinamento, os níveis de
glutamina corporal são alterados. Keast (1998) mostrou que, quanto mais a
intensidade do esforço aumenta, mais significativa é a baixa do nível
plasmático. Em intensidade máxima, as diminuições chegam a 55%. Rohde (1998)
assinala que a baixa de glutamina nem sempre é imediata após o esforço. Dessa maneira,
somente noventa minutos após uma maratona é que uma queda máxima de glutamina é
observada. Duas horas mais tarde, os valores ainda não terão subido.
Hiscock (1998) observou que, a longo
prazo, nem todos os esportes têm o mesmo impacto sobre a glutamina. Os níveis
plasmáticos mais elevados de glutamina plasmática foram observados em
ciclistas, enquanto em nadadores e praticantes de esportes de força eram muito
mais baixos. No entanto, dentre todos os atletas, foram estes últimos que
tiveram o consumo mais significativo de proteínas alimentares.
Para Kingsbury (1998), mais do que o
tipo de esporte praticado, é o grau de fadiga do atleta que afeta o seu nível de
glutamina. Ele demonstrou isso por meio de análises de sangue realizadas em
atletas que se preparavam para os Jogos Olímpicos.
Nos
atletas em forma, os níveis de glutamina eram normais, mas eram mais próximos
do limite inferior que do limite superior. Esses atletas apresentavam 554 mcmol
de glutamina por litro de sangue, enquanto os limites normais são de 480 a 800
mcmol/L. Somente 10% dos campeões desse grupo se encontravam abaixo do limite
inferior.
Em
atletas com fadiga, mas capazes de se recuperar em 24 horas, o nível médio foi de
356 mcmol de glutamina por litro. Nesse grupo, 100% dos atletas se encontravam
no limite mínimo.
Em
atletas submetidos a um treinamento excessivo (overtraining) significativo, o
valor foi bem similar: 383mcmol/L. Nesse grupo, 95% dos indivíduos estavam no limite
mínimo. O que diferencia esses dois grupos de atletas é o fato de que, na fase
de recuperação após os jogos, o grupo submetido ao overtraining continuava a apresentar
valores muito baixos enquanto os atletas que manifestaram fadiga passageira apresentaram
valores dentro dos limites.
Kingsbury
sublinha também que, antes dos jogos, todos os atletas com infecção
apresentavam um nível interior a 480 mcmol/I-. Após os jogos, 80% dos
indivíduos infectados continuavam a apresentar esse nível.
Segundo Smith (2000), níveis baixos
de glutamina refletiriam um excesso de volume de trabalho em comparação ao que
poderia ser tolerado pelo esportista. Em atletas de nível internacional, ele
observou diminuições de 10% do nível de glutamina durante os períodos de treinamento
intenso. Por outro lado, elevações plasmáticas de glutamato (outro aminoácido)
poderiam mascarar uma falta de recuperação. Ele sugere que uma relação baixa
entre glutamina/glutamato indica uma baixa tolerância ao esforço e, talvez, ao
treinamento excessivo (overtraining).
Na altitude, as necessidades de
glutamina parecem ser maiores. Em atletas de endurance, o nível de glutamina sangue
cai 19% após três semanas de treinamento em altitude (Bailey, 1998). A
diminuição poderia explicar parcialmente o aumento de 50% de problemas
respiratórios e gastrointestinais observados na altitude em comparação com o mesmo treinamento realizado ao nível do mar.
4. Benefícios da glutamina para o desempenho
Apesar disso, os benefícios
concretos da glutamina têm dificuldade de se materializar no esportista. Haub
(1998) e Antonio (2002) não detectaram nenhuma melhoria do desempenho em
indivíduos que haviam acabado de ingerir glutamina. Em um prazo mais longo,
Candow (2001) também não observou melhoria da força nem da massa muscular após
o uso de glutamina durante seis semanas por jovens que praticavam musculação.
Thistlethwaite (2005) confirmou esses resultados.
Nenhum efeito benéfico foi observado
durante um regime hipocalórico de doze dias em lutadores (Finn, 2003). Nem a
perda de gordura nem a massa muscular foram bene ficiadas com a suplementação diária
de 25 g de glutamina. Somente Piattoly (2004), em um artigo publicado sob a forma
de resumo, observou que a recuperação da força e da resistência é acelerada
quando os atletas utilizam a mistura de glutamina (0,3 g por kg) +
carboidratos, no lugar de carboidratos sozinhos, imediatamente após um esforço.
5. Como utilizar a glutamina
De qualquer modo, poderíamos ser
tentados a utilizar um suplemento de glutamina para favorecer o anabolismo.
Infelizmente, é muito difícil aumentar os níveis de glutamina muscular, mesmo
utilizando perfusões, como fizeram os pesquisadores em nossos estudos. Por
exemplo, Mitten dorfer (2001) mostra que a ingestão de 5,8 g de glutamina aumenta
os níveis plasmáticos de glutamina em 20% sem influenciar sua taxa nos
músculos.
A outra causa para a ausência de
resultado poderia ser explicada pela absorção muito ruim da glutamina utilizada
sob a forma livre (L-glutamina). Ziegler (1996) estima que aproximadamente 85%
da 1-glutamina ingerida oralmente são interceptados sobretudo pelo intestino e
também pelo fígado. No intestino, a glutamina é captada e utilizada por este
rapidamente (Bowtell, 1999). É necessário observar que o aparelho digestório,
particularmente o intestino, e as células do sistema imune são muito ávidos por
glutamina: ela é uma de suas fontes de energia preferidas. Por outro lado, a
glutamina poderia servir para proteger a saúde do atleta, considerando seu
papel no aparelho digestório e no sistema imune.
Para atenuar esse problema de desvio
digestório, os suplementos cada vez mais contém glutamina sob a forma de
peptídeo. É ocaso das proteínas de trigo, muito ricas em glutamina (contêm
aproximadamente 25%) sob a forma de peptideos de glutamina. Também existem
meios de aumentar o nível de glutamina sem o uso de suplementos:
Os
BCAAs permitem aumentar a produção muscular de glutamina (Aoki, 1981).
A
utilização de carboidratos durante o esforço físico atenua a baixa do nível de
glutamina.
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