quinta-feira, 24 de março de 2016

GLUTAMINA - GUIA DE SUPLEMENTOS ALIMENTARES PARA ATLETAS






Glutamina


1. Metabolismo da glutamina


A glutamina é um aminoácido que pertence à família dos aminoácidos condicionalmente essenciais. No esportista que treina regularmente, a glutamina deve ser considerada um aminoácido essencial, pois a capacidade do corpo desintetizá-la é muito inferior à destruição provocada pelo esforço. Nossos músculos são responsáveis por aproximadamente 70% de nossa síntese total de glutamina. Eles utilizam BCAAs como precursores da glutamina.


A glutamina é o aminoácido mais abundante no corpo. Ela representa aproximadamente dois terços dos aminoácidos livres em nossos músculos. Contudo, Kuhn (1999) considera esse valor mais baixo. De qualquer modo, podemos esperar que a glutamina tenha um papel importante. Existe uma estreita correlação entre o nível de glutamina livre nos músculos e a capacidade de síntese de proteínas.

Quanto mais alta for a taxa de glutamina nos músculos, mais potente é o anabolismo. Estudos em humanos mostraram que uma baixa artificial do nível de glutamina muscular diminui em 11% a velocidade de síntese de proteínas. O estudo mais célebre que contribuiu para popularizar o uso de glutamina pelos esportistas foi o realizado por Haussinger(1993). Ele demonstrou que o anabolismo é regulado, pelo menos em parte, pelo estado de hidratação da célula. Quanto mais ela estiver hidratada, mais o anabolismo é
favorecido. Ele mostrou que a glutamina é um regulador importante da hidratação da célula.

2. Mecanismos de ação da glutamina


Como vimos, ao menos in vitro, a glutamina estimula diretamente o anabolismo protéico. Ela também possui efeitos menos diretos. A ingestão oral de 2 g de glutamina por homens e mulheres sedentários multiplica por quatro a secreção de hormônio do crescimento após noventa minutos (Welbourne, 1995). Essa mesma ingestão de 2 g de glutamina favorece a excreção renal de ácido e aumenta o nível de bicarbonato. Essa propriedade da glutamina poderia, teoricamente, ajudar a acelerar a recuperação durante um treinamento sequencial, ou aumentar o limite da fadiga durante um esforço prolongado. Por outro lado, a glutamina parece também reduzir a mobilização de gorduras e limitar a disponibilidade energética durante um esforço ou um regime.

3. Exercícios físicos e nível de glutamina


Durante um treinamento, os níveis de glutamina corporal são alterados. Keast (1998) mostrou que, quanto mais a intensidade do esforço aumenta, mais significativa é a baixa do nível plasmático. Em intensidade máxima, as diminuições chegam a 55%. Rohde (1998) assinala que a baixa de glutamina nem sempre é imediata após o esforço. Dessa maneira, somente noventa minutos após uma maratona é que uma queda máxima de glutamina é observada. Duas horas mais tarde, os valores ainda não terão subido.

Hiscock (1998) observou que, a longo prazo, nem todos os esportes têm o mesmo impacto sobre a glutamina. Os níveis plasmáticos mais elevados de glutamina plasmática foram observados em ciclistas, enquanto em nadadores e praticantes de esportes de força eram muito mais baixos. No entanto, dentre todos os atletas, foram estes últimos que tiveram o consumo mais significativo de proteínas alimentares.

Para Kingsbury (1998), mais do que o tipo de esporte praticado, é o grau de fadiga do atleta que afeta o seu nível de glutamina. Ele demonstrou isso por meio de análises de sangue realizadas em atletas que se preparavam para os Jogos Olímpicos.

Nos atletas em forma, os níveis de glutamina eram normais, mas eram mais próximos do limite inferior que do limite superior. Esses atletas apresentavam 554 mcmol de glutamina por litro de sangue, enquanto os limites normais são de 480 a 800 mcmol/L. Somente 10% dos campeões desse grupo se encontravam abaixo do limite inferior.

Em atletas com fadiga, mas capazes de se recuperar em 24 horas, o nível médio foi de 356 mcmol de glutamina por litro. Nesse grupo, 100% dos atletas se encontravam no limite mínimo.

 Em atletas submetidos a um treinamento excessivo (overtraining) significativo, o valor foi bem similar: 383mcmol/L. Nesse grupo, 95% dos indivíduos estavam no limite mínimo. O que diferencia esses dois grupos de atletas é o fato de que, na fase de recuperação após os jogos, o grupo submetido ao overtraining continuava a apresentar valores muito baixos enquanto os atletas que manifestaram fadiga passageira apresentaram valores dentro dos limites.

Kingsbury sublinha também que, antes dos jogos, todos os atletas com infecção apresentavam um nível interior a 480 mcmol/I-. Após os jogos, 80% dos indivíduos infectados continuavam a apresentar esse nível.

Segundo Smith (2000), níveis baixos de glutamina refletiriam um excesso de volume de trabalho em comparação ao que poderia ser tolerado pelo esportista. Em atletas de nível internacional, ele observou diminuições de 10% do nível de glutamina durante os períodos de treinamento intenso. Por outro lado, elevações plasmáticas de glutamato (outro aminoácido) poderiam mascarar uma falta de recuperação. Ele sugere que uma relação baixa entre glutamina/glutamato indica uma baixa tolerância ao esforço e, talvez, ao treinamento excessivo (overtraining).

Na altitude, as necessidades de glutamina parecem ser maiores. Em atletas de endurance, o nível de glutamina sangue cai 19% após três semanas de treinamento em altitude (Bailey, 1998). A diminuição poderia explicar parcialmente o aumento de 50% de problemas respiratórios e gastrointestinais observados na altitude em comparação com  o mesmo treinamento realizado ao nível do mar.


4. Benefícios da glutamina para o desempenho


Apesar disso, os benefícios concretos da glutamina têm dificuldade de se materializar no esportista. Haub (1998) e Antonio (2002) não detectaram nenhuma melhoria do desempenho em indivíduos que haviam acabado de ingerir glutamina. Em um prazo mais longo, Candow (2001) também não observou melhoria da força nem da massa muscular após o uso de glutamina durante seis semanas por jovens que praticavam musculação. Thistlethwaite (2005) confirmou esses resultados.

Nenhum efeito benéfico foi observado durante um regime hipocalórico de doze dias em lutadores (Finn, 2003). Nem a perda de gordura nem a massa muscular foram bene ficiadas com a suplementação diária de 25 g de glutamina. Somente Piattoly (2004), em um artigo publicado sob a forma de resumo, observou que a recuperação da força e da resistência é acelerada quando os atletas utilizam a mistura de glutamina (0,3 g por kg) + carboidratos, no lugar de carboidratos sozinhos, imediatamente após um esforço.


5. Como utilizar a glutamina


De qualquer modo, poderíamos ser tentados a utilizar um suplemento de glutamina para favorecer o anabolismo. Infelizmente, é muito difícil aumentar os níveis de glutamina muscular, mesmo utilizando perfusões, como fizeram os pesquisadores em nossos estudos. Por exemplo, Mitten dorfer (2001) mostra que a ingestão de 5,8 g de glutamina aumenta os níveis plasmáticos de glutamina em 20% sem influenciar sua taxa nos músculos.

A outra causa para a ausência de resultado poderia ser explicada pela absorção muito ruim da glutamina utilizada sob a forma livre (L-glutamina). Ziegler (1996) estima que aproximadamente 85% da 1-glutamina ingerida oralmente são interceptados sobretudo pelo intestino e também pelo fígado. No intestino, a glutamina é captada e utilizada por este rapidamente (Bowtell, 1999). É necessário observar que o aparelho digestório, particularmente o intestino, e as células do sistema imune são muito ávidos por glutamina: ela é uma de suas fontes de energia preferidas. Por outro lado, a glutamina poderia servir para proteger a saúde do atleta, considerando seu papel no aparelho digestório e no sistema imune.

Para atenuar esse problema de desvio digestório, os suplementos cada vez mais contém glutamina sob a forma de peptídeo. É ocaso das proteínas de trigo, muito ricas em glutamina (contêm aproximadamente 25%) sob a forma de peptideos de glutamina. Também existem meios de aumentar o nível de glutamina sem o uso de suplementos:

Os BCAAs permitem aumentar a produção muscular de glutamina (Aoki, 1981).

A utilização de carboidratos durante o esforço físico atenua a baixa do nível de glutamina.

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